Chovia. O ar alegre e radiante que Nuvema possuía se fora. Agora estava tudo dominado por neblina, escuridão... E tristeza. E para piorar a situação ela estava arrasada. Nina Harris sempre almejara ser uma grande guitarrista, era razoavelmente boa quando tocava, mas não o bastante. Tanto que não passara em um concurso que valia uma bolsa de estudos na academia de música nacional. Seu sonho estava destruído, seu coração se partira em milhões de pedaços.
Ao caminhar lento de seus passos, Nina segurava sua guitarra pela ponta do cabo, quase arrastando-a nas possas do asfalto. Era uma guitarra bonita, que variava em tons de azul. Possuía estampas de claves de sol, e era de boa qualidade. Lutava para não deixar seu guarda-chuva cair. Seus braços firmes agora estavam fracos, o mundo virara ao contrario naquela tarde. Estava tudo fora de seu lugar. Seu desejo era de tocar fogo em seu instrumento e nunca mais pensar em qualquer música.
Observava as modestas casas. Eram moradias simples, mas bonitas. A maioria era feita apenas de tijolos, e de aparência inglesa. Nina conseguia notar as criancinhas lendo histórias em seus quartos, protegidas pelo calor agradável de aquecedores. A situação era diferente da sua. Já não era uma criança, sem problemas, apenas curtindo sua vida. Já era tratada praticamente como adulta. Além de não ter tido muita atenção quando criança uma vez que seus pais passavam a vida viajando. Ah, como gostaria de ser uma delas. Viver a fantasia que tantas outras garotas tinham ao completar seus dez anos: Se soltar do mundo. Mas para ela não. Sua única chance de conseguir o que sonhava se despedaçou.
Adentrou em sua casa. Era um lugar bem decorado, e acima de tudo, aconchegante. Havia uma mesa de vidro comprida com espaço para seis pessoas, que se sentariam em confortáveis cadeiras de pano. Havia uma pequena televisão, que não era das mais modernas, em frente a um sofá de couro e uma mesa de centro de madeira. As paredes eram decoradas por pinturas de paisagens. Jogou o guarda chuva no chão e a guitarra no sofá.
Uma bela moça, que aparentava ter de 17 a 18 anos entrou na sala. Parecia surpresa ao ver Nina tão cedo em casa. A jovem tinha longos e ondulados cabelos louros, como grandes fios dourados que chegavam a bater nos joelhos. Seus olhos eram castanhos e atraentes. Utilizava um vestido que era, na parte inferior laranja florido, no meio branco e em sua parte superior verde. Era Cassie, irmã mais velha de Nina.
-E então, como foi, Nina-Chan? –Perguntou gentilmente.
-Eu... Não consegui, me desculpe. – Respondeu Nina, abraçando a irmã fortemente, e deixando cair algumas lágrimas.
-Sinto muito Nina-Chan. Venha tomar um chá para não pegar um resfriado.
-Está tudo acabado. Não sobrou mais nada... – Disse tomando alguns goles de seu chá de morando.
-Não perca o ânimo, surgirão outras oportunidades. Não desista.
-Não sei... Este foi minha oportunidade de ouro, e eu a joguei fora.
-Acho que posso fazer algo para ajudar. Amanhã poderemos ir ao laboratório, posso pagar uma licença Pokémon com meu dinheiro economizado.
-Obrigada Onee-Chan*. Pode ser. – Respondeu ainda com um pouco de desânimo.
-Então trate de acordar cedo amanhã. E vá descansar. É preciso de muita energia para se partir em uma jornada.
-Certo, tudo bem. – Disse recolhendo sua guitarra e subindo para seu quarto.
O cômodo era preenchido por um papel de parede azul-claro e piso de madeira. Encostada em uma das paredes havia uma cama de solteiro encoberta por um lençol salmão. Em outra parede havia um guarda-roupa, localizado ao lado de uma escrivaninha com um computador, os dois também de madeira. Nina Sentou-se em sua cama e praticou algumas notas em sua guitarra. Dó, Ré, Mi... Não gostava do resultado. Talvez ela sempre tivesse sido desafinada. Talvez ainda estivesse chocada por causa do resultado 6 em sua prova e por isso não tinha a firmeza necessária.
Selecionou um livro de sua escrivaninha e leu pelo resto da tarde. Apreciava voltar ao seu próprio mundo. Um mundo onde não teria que se preocupar com notas. Onde poderia viver aventuras sem perigos, emoções sem dores. O mundo maravilhoso dos livros. Era uma história maravilhosa. Os olhos de Nina enchiam-se de emoção, e segundos depois morriam de rir. Nunca desejaria se desgrudar do livro. Chegava a lamentar por estar no final da história, e que não voltaria mais a viver as aventuras relatadas naqueles textos. Com isso adormeceu.
A manhã lentamente tomava conta de Unova. O despertador tocava, tentando arrancar uma garota de seu sono. Ao mesmo ritmo Nina se levantava. Não tinha vontade nenhuma de largar sua cama, muito menos de sair em uma Jornada Pokémon. Ainda sonolenta, adentrou o banheiro do segundo andar e lançou uma pequena quantidade de água em seu rosto. jogou-se na banheira branca, se machucando um pouco. Após um banho de águas térmicas penteou os cabelos azuis, lisos e vestiu um traje que havia comprado recentemente.
Era uma camiza branca, com sua gola e mangas azuis. na parte inferior uma pequena saia prensada, azul. Calcava tênis no modelo All-Star jeans, combinando com sua roupa. Para acompanhar também usava um um diadema com um laço e uma rosa vermelha de tecido de enfeite.
Desceu as escadas de madeira sem ânimo e foi ao encontro de sua irmã na cozinha. Era um ambiente simples. Encostado havia um fogão que não era dos mais sofisticados e uma geladeira de duas portas. Também existiam algumas bancadas e utensilios pequenos como um Liquidificador e um micro ondas pequeno. Na parede oposta estava uma pia e no centro uma mesa circular de granito com espaço para quatro pessoas. Cassie se encontrava alimentando-se de algumas frutas e uma panqueca. A pequena mesa de granito estava posta com um generoso café da manhã.
-Bom dia Nina-Chan. Como se sente?
-Melhor. Bem melhor.
-Tenho um presente para você.
Cassie revelou um pequeno cartão que continha uma foto de Nina e algumas informações. Assemelhava-se a uma identidade e de fato era. Uma identidade que comprovava que o detentor era um treinador Pokémon. Era preciso uma para ter acesso a ginásios, á liga Pokémon e outras competições. Era uma licença incrivelmente cara, uma Licença Pokémon.
-O-obrigada, Onee-Chan. Mas não precisava gastar todo o seu dinheiro com...
- Não se preocupe. – Disse Cassie abraçando a irmã e entragando o cartão.
Nina Comeu uma banana e um sanduiche grelhado acompanhados de iogurte de morango.
Após a refeição as duas dirgiram-se ao laboratório da Professora Juniper. Juniper era uma das pesquisadoras mais famosas da região. Destacando-se principalmente por disponibilizar os Pokémons iniciais a treinadores novatos. O laboratório ficava a aproximadamente três quilômetros da casa das duas, mas Nina já se acostumara a percorrer longas distâncias a pé. Cassie bateu na porta do edificio e uma mulher que aparentava seus trinta e poucos anos atendeu.
Usava uma camiseta branca e uma saia verde, Com um jaleco de laboratório que chegava até os calcanhares. Seus cabelos castanhos-claros eram amarrados em um coque. Calcava sapatos brancos com detalhes vermelhos e volumosos brincos quadrados vermelhos. Era um visual perfeito para uma pesquisadora Pokémon. A mulher fixou seus olhos em Nina, com um sorriso natural e encantados estampado em seu rosto.
-Estou diante de uma futura Treinadora?
-Acho... Que... Sim... – Disse tímidamente.
-Poderia mostrar-me seu trainer card? – Nina esticou seu braço entregando o pequeno cartão à professora.
-ótimo, podem entrar.
O laboratório era um lugar amplo e bem organizado. As paredes eram encobertas com ladrilhos brancos, e o piso era de madeira escura. Havia um corredor com portas de coloração bege por toda a sua extenção, que levavam a salas de pesquisadores secundários. Em cada porta havia uma plaquinha de bronze explicando a função da sala. No final do corredor havia uma pequena cozinha. Na sala principal se encontrava uma mesa um tanto bagunçada, que continha uma pequena caixa com três Poké-Balls contidas dentro.
-Aqui está à seleção de iniciais para Unova deste ano. – Explicou a professora. – O tipo Grass Snivy, O tipo Fire Tepig e Oshawott, o tipo Water.
Juniper entregou as três Pokéballs à garota. Eram novas e brilhantes, reluzindo e cintilando.
-Vamos, tente, abra as Pokéballs.
Nina apenas pressionou os botões no centro das esferas, como de costume por ser uma guitarrista, apertou bem forte, quase quebrando os frágeis objetos. Um momento depois as três Pokéballs se abriram, liberando raios azuis que se materializaram nos três iniciais.
Snivy era uma criatura similar a uma pequena cobra com pernas. Era um Pokémon de coloração verde na maior parte de seu corpo. Sua barriga e suas pequenas pernas eram beges. Possuía também alguns detalhes amarelos. Seus grandes olhos eram castanhos.
Tepig era semelhante a um pequeno porquinho. Sua coloração principal era laranja, mas possuía alguns detalhes pretos. Seu nariz e sua calda eram vermelhos. Tinha um olhar feliz e ao mesmo tempo travesso. Aparentava ser uma fêmea
Oshawott tinha uma aparência que lembrava uma lontra do mar. Sua cabeça e seus braços eram brancos e seu corpo era azul-claro. Seu nariz era marrom e seus pés e orelhas eram azul-escuras. Oshawott tinha um olhar espontâneo e descontraído.
-Você tem um braço bem forte, toca algum instrumento?
-Guitarra.
-Ah, então será uma compositora Pokémon?
-Compositora Pokémon?
-Sim, Compositora Pokémon.
A pequena Tepig, por sua própria conta saltou sobre Nina, contente e flamejante, derrubando-a bruscamente e começou a lambê-la , insinuando que queria ser a escolhida.
-Tepig? – Perguntou um pouco tonta, caída no chão frio do laboratório.
-Então será Tepig. – Disse a professora.
-A – a senhora...
-Deixe-me entregar sua Pokédex e suas onze Poké-Balls complementares.
A Pokédex era um aparelho de coloração cinza- escura com a figura de uma PokéBall rosa desenhada na parte inferior. Possuia também duas telas quadradas. Sua função era de registrar uma lista de todos os Pokémon regionais, assim formando um guia completo de todos que seu sinal detectasse.
-O – obrigada então. – Disse desistindo de explicar que não havia escolhido Tepig nem nada. Apanhou a Poké-Ball da pequena criaturinha e a retornou à esfera.
Nina Despediu-se da professora, agradeceu novamente e deixou o lugar junto à Cassie. As duas percorriam o tranquilo e maravilhoso caminho. A garota permanecia pensativa. Compositora Pokémon? O que seria isso? E porque aquilo teria causado tanto interesse, logo nela, que nunca viu nada de mais em jornadas Pokémon?
-Onee-Chan, o que é uma Compositora Pokémon?
-Uma treinadora que usa sua equipe para criar musicais. – Disse Cassie com sua suave e harmoniosa voz.
-Acho que vou descansar um pouco em meio as árvores. Pode ir para casa.
-Tudo bem, volte para o jantar, O.K.? – Cassie deu um suave beijo na cabeça de Nina e seguiu para a pequena moradia.
Nina Aproximou-se da grama presente nas extremidades da Route 1 e deitou-se, liberando Tepig. Enquanto acariciava sua pequena cabeça refletia. Sobre o futuro, sobre os pais, sobre Cassie, sobre a vida. Alguma coisa a havia despertado. Ela sabia, que lá no fundo desejava muito partir, formar uma graciosa equipe de Pokémons, ser uma grande compositora. Não lhe vinha mais a vontade de cursar na academia nacional de Música. Queria ser... Treinadora. Treinadora Pokémon.
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* Onee-Chan: Do japonês Irmã mais velha.
